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Quebra na safra de soja 2023/2024 pode refletir em desemprego na zona rural

O mestre em Economia Lucas Mikael destaca que como efeito em cadeia a quebra pode impactar o mercado de trabalho do setor

| EVELYN THAMARIS/CORREIO DO ESTADO


MS sai de uma produção recorde de 15 milhões de toneladas de soja na safra 2022/2023 para 12,9 milhões de toneladas no ciclo atual - Foto: Gerson Oliveira / Correio do Estado

A projeção de queda na produtividade da safra 2023/2024 deve gerar além de prejuízo R$ 4 bilhões uma instabilidade no setor agropecuário, que pode resultar em uma onda de desempego.

Em Mato Grosso do Sul a primeira estimativa de redução da produtividade aponta para uma queda de 13,89% na comparação com o ciclo do ano anterior.

Dados divulgados pela Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), com base no levantamento do Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio (Siga MS), apontam que o Estado sai de uma produção recorde de 15,007 milhões de toneladas na safra 2022/2023 para 12,923 milhões de toneladas de grãos no ciclo atual - redução de 2,084 milhões de toneladas. 

“Este é o impacto direto que vamos sentir na economia de Mato Grosso do Sul, algo como 38 milhões de sacas de soja que deixam de adentrar em nossa economia”, detalha o economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho (SRCG), Staney Barbosa Melo.
O mestre em Economia Lucas Mikael destaca que como efeito em cadeia a quebra pode impactar o mercado de trabalho do setor.

“A perda de empregos é uma consequência direta da redução na produção agrícola. Com menos demanda por mão de obra no campo, trabalhadores rurais podem ficar desempregados ou enfrentar reduções na jornada de trabalho”, analisa.
Mikael salienta ainda que a situação não apenas afeta os trabalhadores diretamente envolvidos na produção de soja, mas também aqueles empregados em setores relacionados, como o comércio e serviços locais.

Pesquisador do escritório Desafios Agro, o engenheiro agrônomo, Danilo Guimarães detalha que a redução significativa da produtividade de soja no Estado terá impacto direto sobre o produtor.

“Ele [produtor] investiu para colher 70 a 80 de média, enquanto na verdade colheu 40, 50, sendo que em alguns casos essa média foi ainda menor. Fica uma margem muito justa do que ele investiu pra o que ele vai ter de saldo”.
O engenheiro agrônomo explica que a quebra na safra foi principalmente ocasionada pelas altas temperaturas, acompanhada pela estiagem e as chuvas esparsas ocorridas durante o desenvolvimento da lavoura.

“Tivemos aí comparado a última safra e a média histórica em torno de 3 a 4 graus acima da média. E isso associado a períodos de veranica, estresse hídrico, causou na safra uma redução acentuada”.
O economista acrescenta que o cenário impacta diretamente a renda dos agricultores.

“Muitos desses produtores dependem da venda da safra para sustentar suas famílias e investir em novos ciclos produtivos. Com uma safra menor, a receita desses agricultores é significativamente reduzida, afetando seu padrão de vida e capacidade de investimento”, analisa Mikael.
QUEBRA
Conforme matéria publicada pelo Correio do Estado, na edição do dia 18 de abril, a quebra na safra já é estimada em quase R$ 4 bilhões. A projeção realizada pela reportagem é norteada nos dados disponibilizados pelo relatório do Siga-MS e consultoria técnica de agentes do setor.

O preço médio da saca de soja com 60 kg era comercializado pelo preço médio de R$ 112,94 na sexta-feira (19) em MS, considerando que 2,084 milhões de toneladas são 34,733 milhões de sacas de soja, o prejuízo estimado para a safra 2023/2024 é de R$ 3,9 bilhões. 

Considerando somente a redução entre a estimativa inicial, de 13,818 milhões de toneladas, para as atuais 12,923 milhões de toneladas, o prejuízo já chega a R$ 1,6 bilhão.

A saca de soja com 60 kg teve desvalorização de 35% em dois anos. Em abril de 2022, a oleaginosa era negociada a R$ 174, já na semana passada o preço pago é de R$ 112,94 no mercado físico de Mato Grosso do Sul.

No mesmo período, o custo para produzir cresceu 13,85%, saindo de R$ 5.419 por hectare plantado na safra 2021/2022 para R$ 6.170 no ciclo 2023/2024.

Considerando a estimativa do Siga MS, de que Mato Grosso do Sul vai produzir 50 sacas por hectare neste ciclo, se essas 50 sacas forem comercializadas a R$ 115,19  serão pagos R$  5,6 mil por hectare.

Com o custo de R$ 6,1 mil por hectare na hora de implantar a cultura, o produtor rural vai acumular um prejuízo de R$ 500, em média, por hectare plantado.

O boletim econômico com o custo de produção da soja, divulgado pela Aprosoja-MS, aponta que o produtor teve despesa total de R$ 6.170,61 por hectare.

“É uma ferramenta auxiliar na gestão financeira agrícola. Os custos são avaliados pela soma de todas as despesas direta e indiretas, custos variável e fixo, associadas à produção da cultura, no caso, a soja”, detalha o boletim técnico. 


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