União entre PCC e Comando Vermelho segue ativa em MS
Operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro identificou integrante do Primeiro Comando da Capital que negociava armas e drogas com as facções paulista e carioca
| CORREIO DO ESTADO / DAIANY ALBUQUERQUE
Investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro identificaram que a união entre as facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) seguem ativas em Mato Grosso do Sul. A operação, deflagrada ontem, teve como alvo membros das duas organizações que atuavam no tráfico de armas e drogas por meio de contatos com pessoas localizadas na fronteira do Estado com o Paraguai.
De acordo com as investigações coordenadas pela Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD), que resultaram na Operação Bella Ciao, Ana Lúcia Ferreira, que foi presa, era a peça que unia PCC e CV em um consórcio para a compra de armas e drogas no país vizinho.
Ela é ex-mulher de Elton Leonel da Silva, conhecido como Galã, um dos chefes do PCC que foi preso em 2018, no Rio de Janeiro, mas que foi condenado, no ano seguinte, pela Justiça Federal em Mato Grosso do Sul pelo crime de organização criminosa.
Além de líder importante do PCC, Galã também é apontado como um dos participantes da execução de Jorge Rafaat Toumani, conhecido como o “rei da fronteira”, ocorrida em 15 de junho de 2016, em Ponta Porã, em um esquema de guerra.
Segundo as investigações, foi após matar Rafaat, tido como principal obstáculo para sua plena instalação na linha entre Brasil e Paraguai, que Galã assumiu parcela significativa dos negócios e ganhou posto de liderança no PCC, posto esse que seria para chefiar o tráfico na fronteira de Mato Grosso do Sul.
Nessa época, ele teria passado a fornecer armas e drogas para a facção criminosa de São Paulo bem como para o Comando Vermelho, o que indica que sua ex-mulher continuou um esquema que ele havia iniciado.
Ana foi presa na quarta-feira, em Taubaté (SP). Conforme a Polícia Civil do Rio de Janeiro, ela tinha uma “grande rede de contatos” na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, onde conseguia as armas e a droga.
A mulher também era a “interface” do traficante Fhillip da Silva Gregório, conhecido como Professor, que foi morto no mês passado, no Rio de Janeiro.
De acordo com a polícia carioca, Professor e Ana Lúcia se relacionavam com fornecedores de armas de Mato Grosso do Sul, onde compravam, em consórcio, o armamento, a cocaína e a maconha que seriam levados para abastecer as bases das facções. Um dos destinos das armas era, segundo a investigação, o Morro do Alemão, no Rio de Janeiro.
Ao g1, o delegado Vinícius Miranda, titular da Delegacia de Combate ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro, afirmou que a ex-mulher de Galã era uma articuladora do esquema do consórcio.
“A Ana tem uma ligação direta com o Professor. Ela traz para o Rio o conhecimento que já tinha da região de fronteira. É uma articuladora que atua tanto para o Comando Vermelho quanto para o PCC”, declarou o delegado ao g1.
OPERAÇÃO
Em nota, a Polícia Civil do Rio de Janeiro informou que o grupo ligado às facções Comando Vermelho e PCC movimentava mais de R$ 250 milhões.
Além de Ana Lúcia, outro preso foi Gustavo Miranda de Jesus, que atuava na mobilização dos recursos financeiros oriundos de transações ilícitas do CV.
“Ele coordenava pessoalmente a realização de eventos em comunidades, que eram uma maneira de mesclar ativos de origem lícita com outros advindos do tráfico, possibilitando a inserção no sistema financeiro sob a aparência de receitas ilícitas”, disse a polícia carioca, em nota.
Gustavo também era considerado o braço direito e operador financeiro de Professor. Ele foi preso ontem, na zona norte do Rio de Janeiro.
A operação ainda tentou cumprir um terceiro mandado de prisão, contra Luiz Eduardo Grego, conhecido como Cocão, mas ele conseguiu fugir. Segundo informações da Polícia Civil do Rio ao g1, ele é apontado como operador logístico do grupo e estaria sendo treinado por Ana Lúcia para substituí-la na negociação com os fornecedores.
A operação ainda cumpriu mandados de busca e apreensão contra outros investigados, “a fim de reunir elementos que possam auxiliar no inquérito”, diz a Polícia Civil do Rio.