Direita de MS pode se prejudicar com excesso de pré-candidatos ao Senado
Especialistas acreditam que até o fim das convenções partidárias a quantidade de pré-candidatos devem diminuir muito
| CORREIO DO ESTADO / DANIEL PEDRA
Ao longo da última semana o número de pré-candidatos da direita às duas vagas ao Senado por Mato Grosso do Sul chegou a oito postulantes aos cargos e, conforme os analistas políticos ouvidos pelo Correio do Estado, esse excesso de nomes pode acabar prejudicando em vez de ajudar nas eleições do próximo ano.
Estão no páreo o ex-governador Reinaldo Azambuja (PL), o ex-deputado estadual Capitão Contar (PL), a vice-prefeita de Dourados, Gianni Nogueira (PL), o presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Gerson Claro (PP), o deputado federal dr. Luiz Ovando (PP), o senador Nelsinho Trad (PSD), o secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, Jaime Elias Verruck (PSD), e a senadora Soraya Thronicke (Podemos).
Para o diretor do Instituto de Pesquisa Resultado (IPR), Aruaque Fressato Barbosa, essa crescente movimentação de pré-candidatos alinhada à direita para disputar as duas cadeiras do Senado deve prejudicar sim essa ala política.
“O eleitorado é dividido basicamente em direita, centro-direita, esquerda, centro-esquerda, centro, centro moderado e nenhum deles. E essa quantidade significativa de pré-candidatos ligados à direita vai disputar a mesma fatia do eleitorado e, como só os eleitores da direita não serão suficientes para elegê-los, terão obrigatoriamente de buscar votos em outros grupos políticos”, pontuou.
Portanto, de acordo com ele, com essa tendência de aumento de candidatos à direita, pode abrir um espaço para um pré-candidato do centro ou do centro moderado captar votos dos eleitores que não se identificam como direita, como centro-direita, como centro ou como nada.
“Aquelas pessoas que não querem saber de política, mas precisam votar, só que não votam em radicalismo da direita e nem radicalismo da esquerda, votariam em um pré-candidato de fora dessas duas bolhas. Porque, como são dois votos, dificilmente alguém moderado, ou de nenhuma corrente, vai votar em dois pré-candidatos, por exemplo, da direita, ou em dois da esquerda. Enfim, vai procurar alguém ali que tenha um perfil mais parecido com o deles”, projetou.
Aruaque Barbosa completou que é preciso entender quais serão os nomes e quais serão as linhas ideológicas defendidas na campanha para poder fazer uma mensuração mais detalhada sobre isso porque, às vezes, alguém que é de direita, que se alinha como da direita, vai para a campanha e faz um discurso mais moderado.
“Porque, como o Senado são dois votos, é muito arriscado o pré-candidato focar apenas nos eleitores da direita esperando que isso o faça ganhar a eleição. É questão de estratégia, quem errar menos, vai ter uma vantagem sobre o adversário, por isso, entender o momento do eleitorado pode ser crucial”, alertou.
O diretor do IPR explicou que os fatos que estão acontecendo atualmente no Brasil refletem diretamente aqui, por exemplo, a questão da violência, a questão da geração de emprego e a questão de perspectivas para o ano de 2026. “Enfim, todas essas ações que são políticas e estão sendo comentadas vão refletir aqui e isso vai determinar quais serão as estratégias dos pré-candidatos a senadores da República no próximo ano”, afirmou.
EMBOLADO
Na visão do cientista político Tércio Albuquerque, ao se considerar os oito pré-candidatos ligados à direita, como Nelsinho e Soraya, ou à extrema direita, como Capitão Contar, dr. Luiz Ovando e Gianni Nogueira, ou ao centro-direita, com Azambuja, Verruck e Gerson Claro, todos estarão buscando praticamente o mesmo eleitorado. “As exceções podem ser Gerson Claro e Jaime Verruck, que talvez alcancem eleitores de centro e até de centro-esquerda”, pontuou.
No entanto, de acordo com ele, dificilmente se confirmarão as oito pré-candidaturas.
“Porque a pressão político-partidária, principalmente da extrema-direita contra os de centro-direita vai ser grande, especialmente por se considerarem os únicos legitimados a usar o ‘legado bolsonarista’, o que vai realmente confundir o eleitor e ‘embolar’ as pesquisas”, comentou.
Quanto a reais possibilidades, Tércio Albuquerque falou que é possível afirmar, neste momento, que essa aliança “forçada” entre Azambuja e Contar pode acabar por atrapalhar as pretensões do segundo, que hoje não tem praticamente nenhuma estrutura política articulada para enfrentar Nelsinho, Soraya e Gianni.
“Já os considerados novos no cenário, Jaime Verruck e Gerson Claro, tendem a aumentar a dificuldade de articulação do governador Eduardo Riedel (PP), que está se comprometendo em espalhar apoio para além das suas forças, visando uma reeleição que, ao que parece, até agora já está assegurada”, afirmou.
Ele pontuou que é importante aguardar o próximo ano para saber quem realmente vai chegar com alguma condição para enfrentar as convenções partidárias e qual o valor que poderá abocanhar nessa divisão dos fundos partidários.
REDUÇÃO
Na opinião do professor do curso de Ciências Sociais da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Daniel Miranda, no Estado, assim como em Santa Catarina e outros estados nos quais a direita tem mais força, calcula-se que haverá duas vagas para esse campo político e, como isso só acontece a cada oito anos (2 vagas no Senado), é esperado que haja maior concorrência.
“Essa é a grande questão. Por enquanto, tudo é fumaça e balão de ensaio. Ano que vem, quando for para valer, é provável que metade ou mais dessas pré-candidaturas fiquem pelo caminho, mas, até lá, cada um vai tentar emplacar seu nome e derrubar algum concorrente mais direto. Além disso, tal proliferação de nomes pode ter relação com o fato de o grupo liderado pelo Azambuja ter se dividido em vários partidos, PL, União Brasil e PP, principalmente”, assegurou.
Para ele, embora seja um grupo político que esteve unido até às eleições estaduais passadas, agora, provavelmente, devem estar ocorrendo disputas internas acirradas.
“E, por estarem em partidos diferentes e tais partidos serem grandes, cada um deve calcular que tem chance de emplacar seu nome. O fato que, se tais pessoas estão permitindo que seus nomes circulem como pré-candidatos, é porque há um jogo de bastidores pesado ocorrendo”, argumentou.




