Na véspera da relicitação da BR-163, CCR apresenta 'milagre econômico'
Empresa passou a contabilizar tudo aquilo que arrecada nas 9 praças de pedágio e saiu do tradicional prejuízo para lucro milionário
| CORREIO DO ESTADO / NERI KASPARY
Às vésperas da relicitação da BR-163, prevista para 22 de maio, balanço divulgado pela Motiva (antiga CCR) revela que a CCR MSVia, um das empresas do grupo, passou por um verdadeiro “milagre econômico” no primeiro trimestre deste ano na comparação com igual período do ano passado.
Apesar do aumento de apenas 1,6% no fluxo de eixos pagantes nas nove praças de pedágio e do aumento de 3,69% nas tarifas em julho do ano passado, o faturamento oficial com a cobrança de pedágio apresentou um salto de 156%, passando de R$ 42,2 milhões para R$ 108,4 milhões.
Desta forma, a concessionária que administra os 847 quiolômetros da mais importante rodovia de Mato Grosso do Sul saiu de um prejuízo de R$ 97 milhões nos primeiros três meses do ano passado para um lucro de R$ 21,1 milhões em igual período de 2025. Lucro é algo inédito na contabilidade da CCR MSVia desde 2014, quando assumiu a rodovia.
A explicação para este “milagre” aparece no próprio balanço do grupo. Conforme a empresa, “devido à assinatura do aditivo de relicitação da MSVia em junho de 2021, a receita considerada passou a ser de 47,3% do valor arrecadado, impactando a receita e o cálculo da tarifa média. Após a celebração do Termo de Autocomposição em 18 de dezembro 2024, a receita considerada passou a ser 100% do valor arrecadado”.
Ou seja, apesar de no primeiro trimestre do ano passado ter sido cobrado pedágio sobre um total de 13.202.469 de eixos, a empresa contabilizou faturamento de apenas R$ 42,2 milhões, o que equivale a 47,3% daquilo que efetivamente entrou nos cofres da CCR MSVia. O mesmo ocorreu em anos anteriores.
Agora, por conta do chamado Termo de Autocomposição, assinado em dezembro passado, tudo aquilo que foi cobrado sobre os 13.416.119 eixos pagantes passou a ser levado em consideração na contabilidade da empresa e o tradicional prejuízo simplesmente desapareceu.
Como o valor médio por eixo é da ordem de R$ 8,00 em cada praça, o faturamento com pedágio chegou aos R$ 108,4 milhões. Se fosse utilizada a metedologia do ano anterior (47,3% do total), seriam computados pouco mais de R$ 51 milhões e a CCR MSVia mais uma vez teria fechado no vermelho.
Outro aspecto que ajudou a melhorar os números e o lucro da concessionária em Mato Grosso do Sul é a redução de R$ 21 milhões nos investimentos para manutenção da rodovia. Isso ajuda a explicar as reclamações de motoristas relativas a falhas no pavimento, com buracos surgindo ao longo de toda a rodovia, principalmente depois das chuvas dos primeiros meses do ano
RELICITAÇÃO
Depois da renovação do contrato, prevista para o dia 22 de maio, a empresa terá direito de praticamente dobrar o valor das tarifas, que passariam da casa dos 8 centavos a cada quilômetro para 15 centavos, levando em consideração somente os trechos sem duplicação.
O equivalente a um terço deste aumento está previsto para entrar em vigor já no primeiro ano do novo contrato. O restante deve ser repassado ao longo de três anos, quando algumas das melhorias já tiverem sido feitas.
O novo contrato prevê que mais 190 quilômetros da rodovia sejam duplicados, incluindo os 25 quilômetros do anel viário de Campo Grande, trecho que concentra em torno de 20% de todas as mortes da rodovia, embora signifique apenas 3% da rodovia.
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