Com receio de perder senador, Kassab convida Nelsinho para reunião do PSD
O parlamentar sul-mato-grossense está sendo sondado pelo PL, do ex-presidente da República Jair Bolsonaro, para se filiar à sigla
| JORNAL GRANDOURADOS/CORREIO DO ESTADO / DANIEL PEDRA
Após reportagem publicada por um iornal da Capital que o senador sul-mato-grossense Nelsinho Trad (PSD) estaria cada vez mais próximo do PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, e que teria chegado até a participar do ato pela anistia dos presos pelo 8 de Janeiro, realizado em Brasília (DF), o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, convidou-o para uma reunião no dia 25, em São Paulo (SP).
A reportagem obteve a informação de que Kassab realizará um jantar reservado com a elite do PSD para tratar de questões partidárias, principalmente, o projeto de expansão da legenda, que ganhou na semana passada o reforço do ex-tucano Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, e, agora, também está na tentativa de seduzir o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), e o governador de Alagoas, Paulo Dantas (MDB).
De olho em fortalecer o partido para as eleições gerais do próximo ano, o presidente nacional do PSD não pretende ter nenhuma baixa nos seus quadros, principalmente de um senador da República, já que uma das armas utilizada por Kassab para ter poder de negociação política está no fato de ter uma bancada numerosa na Câmara dos Deputados e no Senado.
Por isso, ao pressentir a ameaça de perder um senador, ele agiu rápido e convocou Nelsinho Trad para participar desse jantar e também de evento no dia seguinte (26), quando o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung assinará a ficha de filiação ao PSD, chegando ao partido com a missão de comandar a Fundação Espaço Democrático, ambiente de estudos e formação política da sigla, e, depois, ser candidato ao Senado.
Conforme fontes ouvidas pelo Correio do Estado, a presença de Nelsinho no ato de Bolsonaro no início deste mês serviu para aumentar o flerte do ex-presidente para que o parlamentar sul-mato-grossense saia do partido de Gilberto Kassab e engrosse as filas do PL no Senado, onde os dois partidos têm as duas maiores bancadas, com 14 senadores cada um.
Portanto, caso Trad seja seduzido, o PL pode se tornar a maior bancada dentro da Casa de Leis, fortalecendo ainda mais a direita e enfraquecendo a esquerda do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Nos bastidores políticos de Mato Grosso do Sul, já seria dada como certa a troca do PSD pelo PL por parte de Nelsinho Trad, que pretende tentar a reeleição no pleito de 2026. Caso continue à frente do seu atual partido, as chances seriam bem remotas, portanto, o senador sul-mato-grossense pode responder ao flerte de Bolsonaro.
Procurado, Nelsinho disse que participou da caminhada pacífica pela anistia humanitária em apoio a quem recebeu penas abusivas por parte do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Vim, a convite do Bolsonaro, prestar o meu apoio àqueles que foram colocados no mesmo patamar dos que depredaram e destruíram patrimônio público federal. Sou a favor de separá-los para que não sejam cometidas injustiças”, declarou.
Sobre o assédio de Bolsonaro para que troque o PSD pelo PL, o senador preferiu não comentar, explicando que as pautas defendidas pelo centro e pela direita estão dentro do seu leque de atuação no Senado.
Desde julho de 2023, o senador sul-mato-grossense Nelsinho Trad e o PL mantêm uma espécie de namoro a distância, pois, há dois anos, ele chegou a receber um convite formal do presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, entretanto, as conversas não avançaram.
A proximidade de Nelsinho e Bolsonaro é antiga, pois, quando o ex-presidente ainda estava como chefe do Executivo nacional, o senador sul-mato-grossense era aliado de primeira hora em Brasília, votando a favor dos projetos de lei encaminhados pelo seu governo.
Além disso, na eleição presidencial de 2022, tanto no primeiro quanto no segundo turno, Nelsinho não escondeu de ninguém que seu voto seria pela reeleição de Jair Bolsonaro, mesmo com o comando nacional do PSD pendendo para o lado da candidatura de Lula.
No segundo turno, entretanto, o senador, como presidente estadual do partido, chegou a convocar uma coletiva de imprensa para oficializar o apoio a Bolsonaro, justificando que pesaram para a decisão a fidelidade e o empenho em favor dos projetos do governo do ex-presidente submetidos ao Congresso Nacional.
Enquanto grande parcela do PSD migrava para o palanque do atual presidente da República no segundo turno, o senador sul-mato-grossense pôs sua liderança a serviço da campanha bolsonarista.
Essa foi apenas mais uma demonstração do vínculo que ele sempre manteve com o então presidente da República. No início de 2021, quando era presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho Trad foi cotado para substituir o então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
Seis meses antes da especulação, em março de 2020, o senador já era visto ao lado do ex-presidente, tanto que virou notícia na mídia nacional por contrair Covid-19 após ter participado da comitiva de Bolsonaro que foi aos Estados Unidos.
Com a filiação do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, o PSD passa a ter quatro chefes de Executivo nos estados: Fábio Mitidieri (Sergipe), Ratinho Jr. (Paraná) e Raquel Lyra (Pernambuco) – esta última, aliás, deixou o PSDB no início do ano. O partido, portanto, está empatado com PT e União Brasil, que também têm quatro governadores cada.