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Atirador que matou indígena é paraguaio e estava com pistoleiros, diz comunidade

Valdecir Alonso Brites foi identificado por uma das vítimas dos disparos e Sejusp o trata como guarani

| CLARA FARIAS / CAMPO GRANDE NEWS


Munições encontradas após ataque na retomada Pyelito Kuê (Foto: Reprodução)

Um conflito em área de retomada indígena em Iguatemi, Mato Grosso do Sul, resultou em duas mortes no último domingo. Vicente Fernandes Vilhalva, de 36 anos, foi atingido por disparo na cabeça, e o vigilante Lucas Fernando da Silva foi atropelado por um trator durante demolição de barracos.

A comunidade Pyelito Kue identificou Valdecir Alonso Brites, 45 anos, como um dos atiradores. Em carta à Funai, afirmaram que ele morou na área por dois anos, mas não é reconhecido como indígena. A defesa de Valdecir nega sua participação no ataque. A Justiça Federal proibiu a atuação das forças policiais estaduais na área.

De acordo com o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), a comunidade Pyelito Kue encaminhou uma carta à Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) afirmando que Valdecir, que é de nacionalidade paraguaia, morou na área por dois anos, pois é casado com uma mulher indígena da comunidade, mas se mudou e hoje vive a 45 quilômetros da comunidade. “O Valdecir estava junto com os pistoleiros', diz um trecho do documento.

Ele foi identificado como autor dos disparos pelo indígena Eliéber Riquelme Ramires, que também ficou ferido durante o ataque. Um adolescente indígena, de 14 anos, foi atingido no braço. Em nota divulgada pela Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública) de Mato Grosso do Sul, nesta segunda-feira (17), Valdecir era tratado como indígena e teria matado um dos 'seus'.

Ainda conforme o Cimi, os indígenas da comunidade Pyelito Kue pedem que a PF (Polícia Federal) investigue se Valdecir não foi cooptado por fazendeiros para participar da ação.

A outra vítima, Lucas Fernando da Silva, morreu após ser atropelado por um trator que derrubava barracos no local, conforme apurado pela reportagem.

A reportagem, o advogado de Valdecir, Paulo Donati, afirmou que o acusado negou participação no crime durante a audiência de custódia. “Falou que em nenhum momento esteve na área de retomada', disse. Segundo o advogado, a prisão ocorreu por volta das 11h de ontem (17), e nenhuma arma ou munição foi encontrada com ele. A Justiça decretou a prisão preventiva.

Uma equipe do Ministério dos Povos Indígenas e da Funai está em Mato Grosso do Sul para acompanhar o caso. A comitiva desembarcou em Campo Grande na noite de segunda-feira (17) e seguiu para Iguatemi. Na manhã de hoje, integrantes visitaram a Polícia Civil.

O caso - Indígenas da etnia Guarani Kaiowá denunciaram, no domingo (16), um ataque à área de retomada na Fazenda Cachoeira, em Iguatemi. Segundo a comunidade, cerca de 20 homens armados atacaram a comunidade. Durante o conflito, o indígena Vicente Fernandes Vilhalva, de 36 anos, foi atingido com um tiro na cabeça.

Conforme o Cimi, os atiradores tentaram recolher o corpo da vítima para levar, mas foram impedidos pelos indígenas.

Após os ataques, os ruralistas tentaram demolir os barracos montados pela comunidade com tratores, momento em que o vigilante da Fazenda Cachoeira foi atropelado pelo maquinário. O vigilante estava há uma semana em Mato Grosso do Sul e, segundo familiares, foi contratado para proteger os trabalhadores da fazenda.

Nesta segunda-feira (17), a Justiça Federal proibiu a atuação das forças policiais do estado na área de retomada de Iguatemi.

A área em disputa integra parte da Terra Indígena Iguatemipeguá, cuja identificação e delimitação já constam em relatório da Funai. A região, que abrange quatro municípios do sul de Mato Grosso do Sul, enfrenta conflitos fundiários há anos.

 


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